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Pacientes disputam respiração manual em hospital de MS; superlotação chega a nível crítico

Instituição acumula déficit de 256 milhões de reais e opera com capacidade acima do limite em setores críticos

08/04/2025 às 14h15
Por: Redação
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A Santa Casa de Campo Grande está em colapso, com seus leitos lotados além da capacidade. (Foto Ilustrativa/ Divulgação Santa Casa)
A Santa Casa de Campo Grande está em colapso, com seus leitos lotados além da capacidade. (Foto Ilustrativa/ Divulgação Santa Casa)

A Santa Casa de Campo Grande vive um cenário crítico, com superlotação agravada após o fim de semana. Dois pacientes precisaram ser atendidos com ventilação manual devido à falta de equipamentos disponíveis — os oito aparelhos estavam em uso. A situação reflete uma crise financeira que persiste há anos, com repasses insuficientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

Segundo William Lemos, diretor-técnico do hospital, o pronto-socorro atende 61 pacientes: 49 na área verde (capacidade ideal para 7) e 12 na área vermelha (que opera com o dobro da capacidade). A instituição também enfrenta atrasos nos pagamentos de 359 médicos contratados via PJ e fornecedores de insumos. O perfil de atendimento, que deveria ser 40% privado e 60% SUS, hoje é de 10% e 90%, respectivamente.

A presidente Alir Terra Lima destacou o déficit acumulado de 256 milhões de reais desde 2018, quando o hospital ingressou com uma ação por reequilíbrio financeiro. O processo está em recurso no TRF-3, com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República.
"A Santa Casa, ao longo dos tempos, vem aumentando o seu déficit, pois faz empréstimos para não entrar nas crises, para atender os pacientes. Mas a obrigação legal de atender é do poder público", afirmou Alir.

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Repasses insuficientes

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No dia 3 de abril, um repasse emergencial de 25 milhões de reais foi aprovado, dividido em três parcelas mensais de 8,3 milhões, via Fundo Municipal de Saúde. A senadora Soraya Thronicke (Podemos) anunciou mais 10 milhões de reais de emendas parlamentares. A prefeita Adriane Lopes comprometeu-se a destinar 12 milhões anuais e reajustar o contrato, congelado há dois anos.

Mesmo assim, o hospital acumula uma dívida de 250 milhões de reais com bancos e um déficit mensal de 13 milhões.
"Quando fazemos um procedimento via SUS, o valor pago não cobre toda a despesa. Isso já foi reconhecido pelo próprio Poder Judiciário Federal", explicou Alir. A instituição ainda aguarda 23 milhões de reais não repassados durante a pandemia, parte de uma dívida total de 46 milhões da União.

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A superlotação atingiu níveis alarmantes: no último fim de semana, a área vermelha atendeu 25 pacientes em espaço para 6 leitos.
"Fizemos um esforço gigantesco para transferir pacientes para outras unidades, mas conseguimos apenas uma transferência. A maior parte dos casos acabou redistribuída internamente, até mesmo com o uso de leitos privados", relatou William Lemos. Na área verde, 45 pacientes ocupavam espaço para 7. A ortopedia tem 118 internados, sendo 50 à espera de cirurgia.

Fabiano Cansado, diretor de expansão, destacou que a linha privada — responsável por 36,7 milhões de reais em 2024 — ajuda a subsidiar o déficit, mas a legislação permite ampliar para 40% do atendimento.
"Precisamos corrigir esses termos, repasse do SUS é para o Hospital Público. Hospital Filantrópico e Hospital Privado, eles estão pagando, pelo serviço prestado", explicou.

 

Serviços não remunerados

João Carlos Marchesan, diretor de negócios, revelou que o hospital presta 1,2 milhão de reais mensais em serviços não pagos — 700 mil em média complexidade e 500 mil em alta complexidade.
"O custo real é 2,5 vezes maior, gerando prejuízo de quase 3 milhões por mês", explicou. Pacientes do interior representam 30% da demanda, mas o teto contratual é ultrapassado sistematicamente.

"Sem aumento nos repasses, somos forçados a prestar serviços gratuitos e mal remunerados", concluiu Marchesan. A solução definitiva, segundo a gestão, passa pela atualização da tabela SUS, sem reajuste real desde 2008.

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